Autor Tópico: [Fanfic 2] Realização pós – mortem  (Lida 4526 vezes)

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Offline Smaug

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[Fanfic 2] Realização pós – mortem
« em: Março 15, 2006, 07:51:34 am »
Autor: Sara "Itarillë" Rodrigues
Tipo: Fanfcition Tolkien-based
Título: Realização pós – mortem

Caminhei por quilômetros, por horas. Caminhei? Quilômetros? Horas? Não posso dizer ao certo. Apenas sei que foi uma longa jornada.

Subitamente, me senti novamente com capacidades sensoriais. Até então, eu apenas era. Não sei o que me fez saber naquele período de não – consciência que eu estava vivo, e não morto. Não havia idéias. Não havia nada.

Como eu estava dizendo, de repente me senti em mim novamente. O que havia acontecido? Minha memória havia sumido, e conseqüentemente meu passado. Quem eu era?

Respirei pela primeira vez. O peito, desacostumado à respiração, com o tempo acabou voltando a realizar o processo sem um comando consciente. Meus olhos viram e as cores machucaram-nos. Uma coisa cobria meu corpo. Eu não sabia bem o quê, mas estava estranho, era brilhante, e de alguma forma eu sabia que era bela. Brilhante... sim, isso eu também sabia definir. De algum poço recôndito de minha mente, esse conceito saiu. E eu sabia muito bem o que era, mesmo sem poder explicar.

Me levantei, firmando as pernas com dificuldade. Pus um pé na frente do outro, e fiquei admirado de conseguir me manter em equilíbrio. Teria que aprender tudo outra vez?

Não, para meu alívio. Logo após o terceiro passo, pude fazê-lo sem ter mais receio de cair.

Meus olhos... ainda se feriam. E uma coisa enorme se desnudou diante deles, uma coisa infinita, a qual eu não conseguia ver fim, e me fez passar maravilhosamente mal. Instintivamente, fui até ela. Dava um certo receio de chegar perto, mas a força interior que me impelia era maior.

Toquei com as mãos aquela massa. Passei-as logo após pelo rosto, e ao sentir o gosto salgado na boca (o sentido de “salgado” também já estava implícito em mim), lembrei: aquilo era o mar. E a coisa brilhante era areia. Não era qualquer areia: parecia poeira de pedras preciosas.

Poeira de pedras preciosas... os conceitos começaram a voltar à minha mente aos poucos. As cores luminosas, os contornos, as nuances começaram a me parecer familiares outra vez. Já não me sentia visualmente ferido por um mundo desconhecido.

Andei ao longo da costa. Sim, minha mente começava a clarear. As torres, as construções, foram retornando aos poucos. Mas não a lembrança em si. Eu me lembrava dos conceitos: torre, mar, areia, céu. Mas não sabia o que aquilo tinha a ver com minha vida. Ainda estava num lugar não conhecido.

Adentrei para o conjunto de construções. Sim, cidade, lembrei. Mas estava vazia. Não havia ninguém nas... nas ruas. Foi quando ouvi algo maravilhoso. Um som incrível. E me lembrei repentinamente do que era canto.

Um turbilhão de lembranças invadiu minha mente num só momento: meus palácios, os anões, o colar magnífico que eles me ofertaram mas que já não estava comigo, meus súditos quase me expulsando de meu próprio reino. Aquela masmorra, a morte a cada dia. Até que chegou a minha vez. Foi um tormento, e no entanto não fugi do meu destino. Matei o monstro, mas ele não ia deixar barato: me levou junto com ele... novos palácios, nova compleição, dimensão, existência. E mais novo vagar...

Durante uma eternidade, fiquei naquele estado. Desacostumei-me tanto à matéria que antes conhecia, que acabei dela me esquecendo. Apenas de uma coisa me lembrava, e para revê-la ansiava. E o mais irônico disso tudo é que, naquele momento de retorno, eu não lembrava dessa coisa, apesar de ter o acesso a ela, o qual tanto esperei.

O canto continuava, pungente e belo. Fui em sua direção, ansioso. Algo surpreendente me esperava, e eu não tinha noção do quê. Mas sabia, em meu íntimo eu sabia, que era algo realmente grandioso e importante para mim. Talvez aquilo pelo qual aguardei por tanto tempo.

Alguns de minha espécie (elfos, me lembrei) saíram de suas casas e foram me ver. Comemoraram ao me reconhecer. Mas eu não estava me importando com aquilo no momento. Só queria seguir a voz.

A maioria acabou por se retirar após isso. Outros me seguiram por algum tempo, mas logo se foram também. Quando mal me apercebi, estava sozinho.

Finalmente, depois de tanto andar (ao menos em minha concepção), avistei a dona daquela voz. Sozinha, na beira duma enorme fonte luminosa, com os férricos edifícios, brilhantes e monumentais, lhe servindo de paisagem, estava uma donzela élfica.

Seus cabelos esvoaçavam com o vento, o mesmo vento que parecia trazer um perfume sublime no ar até mim, o seu perfume. Eu não sabia que a encontraria novamente. Apesar da longa espera, no fundo eu não tinha esperanças de reencontrá-la. Tal encontro foi, portanto, uma surpresa de fato.

As águas da fonte respingavam, sendo atingidas pela luz do Sol, transformando-se assim em aljôfares multicoloridos. E iam, então, pousar no rosto dela.

Suas mãos brancas e longas pareciam reger os movimentos do Sol, da fonte, do mundo. E no momento em que perpassou a mão direita ao Oeste, seu olhar me descobriu, e finalmente caiu em minha figura.

Uma luz enorme surgiu em seu rosto, o que me fez sentir uma das maiores alegrias de minha vida. Sim, ela ainda se lembrava de mim. Seu canto foi interrompido, e sua voz cristalina transformou-se num grito de júbilo:

-Finrod!

Enquanto ela corria em minha direção, segurando a cauda do vestido, minhas lembranças se completaram. Meu nascimento, meu amadurecimento, o dia em que conheci aquela donzela. A rebelião, os olhos tristes dela ao ver que eu ia e ela ficava. Recusei-me a procurar outra como esposa. E quando morri, a lembrança daquele rosto lindo, das lágrimas em seus afeiçoados olhos, da desesperança que eu havia deixado no coração da que eu mais amava, foi a última antes de eu finalmente soltar o último suspiro. Agora lá estava ela, a que eu havia esperado durante minha permanência nos palácios de Mandos, antes ainda em meu exílio na Terra-Média, lá estava ela, em minha frente, há poucos passos de mim!

Corri até ela também. E aquele espaço, aquele curto espaço, me pareceu mais eterno do que a própria morte, da qual eu saíra há pouco. Quando ela me abraçou, com lágrimas nos olhos novamente (dessa vez de alegria), ao sentir seu toque foi como se eu recebesse o último fator, a última peça da qual eu precisava para reviver completamente. Naquele momento, e apenas daquela hora em diante, meu coração bateu plenamente, e eu pude lembrar de tudo por completo, de meu passado, de meu amor. E ao ter visto e tocado aquela estrela, os olhos da compreensão, da alma, finalmente se abriram, e pude falar outra vez:

-Amárië...

Aquele abraço pareceu-me eterno, a vida sobrepujando a morte. Ela era belíssima, e estava comigo novamente.

Várias perguntas vieram em minha mente para eu fazer a ela; muito tempo havia se interposto entre nosso último encontro e aquele abraço. Mas apenas uma frase saiu quando tentei colocar todas elas numa só expressão:

-Né sóra lelyalë, mal entullen.

Ela sorriu em resposta, e isto me fez feliz, de uma forma que há muito tempo não era. Aquele abraço foi realmente eterno, e o é até hoje.
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