Oras, Fëa, você não pode negar que há suspeitas quanto a vida após a morte. Na verdade, bilhões de pessoas no mundo acreditam piamente nisso, o que já é uma suspeita bem razoável.
O número de pessoas que acreditam em algo não torna isso mais verdadeiro.
Esse é um argumento freqüentemente usado, mas não passa da uma falácia de
Argumentum ad Populum.
Além disso, diversas pessoas dizem ter vivido situações que a ciência não pode explicar. É claro que parte delas é falsa e outra parte pode ser simplesmente ignorância, etc. mas ainda assim não se pode dizer que todas as pessoas no mundo ao longo da história que se sentiram agraciadas, que acham ter vivido uma situação inexplicável ou algo do tipo estavam mentido ou enganadas.
Claro quem muitas não estavam mentindo, nem enganadas. Mas o fato de experenciar algo que a ciência não pôde explicar não é prova algum de nada. Dar um significado místico para isso é a preguiça inerente ao ser humano em não tentar conhecer as coisas, apelando para o sobrenatural, que preenche o vazio de explicação. O ser humano faz isso desde que se conhece por ser humano.
É óbvio que não pode provar, mas há espaço para dúvida razoável nessa questão.
A questão Bag, é que as pessoas, quando possuem dúvidas e incertezas, preferem apelar para o misticismo.
A dúvida deve ser força motriz para a busca do saber, não para o comodismo que as crenças instauram.
Mas não é de se esperar que conceitos como alma, vida pós morte, Deus, tenha qualquer base de comprovação científica. No máximo dos máximos, pode-se tentar encontrar pontos em que houve modificações anormais num pressuposto conhecido pela ciência.
Aí que está:
Se não não pode ser provado científicamente, é pura questão de fé.
Se é fé, não é racional.
É comum entre religiosos querer discutir racionalmente questões de fé.
Se quer acreditar que existe vida após a morte, ok, eu não vejo problema, inclusive respeito. Mas querer que isso seja uma verdade absoluta e universal não é nem um pouco lógico. Na verdade, se formos levar as coisas para um plano filosófico extremo, nada pode ser considerado verdade absoluta. Mas, pragmaticamente falando, as únicas certezas que possuímos são as respostas dadas pela ciência para
algumas coisas. Afinal, para que algo possa ser acreditado como verdade absoluta, somente após passar pelo crivo da ciência por diversas vezes.
Veja o caso hipotético de uma pessoa com câncer generalizado que pára de fazer tratamento e resolve pedir um milagre. Pouco tempo depois ela está totalmente curada. Isso seria o suficiente para provar a existência de tal milare, já que houve um comportamente completamente contrário ao que, por defiição científica, sabia-se que iria acontecer. Agora, se a tal pessoa simplesmente morre, isso não é suficiente para provar que não existe Deus algum. Nesse caso, a ciência fica em desvantagem.
Como assim desvantagem? Só por que ela não pôde explicar um evento, vai se atribuir uma causa sobrenatural ao mesmo?
Novamente se incorre numa falácia, dessa vez de
Non causa pro causa (falácia da falsa causa), mais especificamente,
Post Hoc Ergo Propter Hoc: assumir que uma coisa é causa de um evento apenas por ter ocorrido antes do tal evento.
E essa desvantagem acontece porque o campo de estudo em questão, está além do que é conhecido pela ciência. Por exemplo: como é possível provar matematicamente que 0 < 1 ? Você pode usar os postulados e axiomas, que são os elementou mais báscios e completamente provados da matemática. Também pode aplicar o conceito a um plano cartesiano, usando de alguma lógica. Mas veja que a ciência ainda não tem a menor parte básica e indiscútil sobre os assuntos místicos.
Por que misticismos não são o âmbito da ciência pois são... misticismos.
Em meio à tantas explicações místicas e pseudocientíficas, quantas valeram de fato para a nossa realidade?
Quantas acrescentaram benefícios à humanidade? Etc.?
Agora compare isso com o que a ciência já propiciou ao homem. Compare com o poder prático do conhecimento científico.
Enquanto milhões de pessoas tentam sem sucesso provar coisas através de misticismos, as regras da física continuam a valer no mundo todo. Mas claro que não podem explicar tudo, pois o conhecimento humano é limitado. E os assuntos místicos buscam se aproveitar dessas brechas. Até que elas sejam preenchidas pela ciência e o misticismo tenha que buscar um novo alvo.
Negar a existência de algo sobre qual não se tem conhecimento algum é tão vão quanto aceitar a existência disso. Algo que não pode ser estudado, seja para confirmação ou refutação, está além do conhecimento de seu tempo.
Nesse caso, você está simplesmente se abstendo de procurar uma resposta. Ficar em cima do muro é fácil, mas buscamos respostas para a realidade em que vivemos. E eu não vou simplesmente admitir a existência de um dragão invisível na minha garajem, simplesmente por isso não poder ser provado.
De que adianta dizer que tal dragão existe, se não posso prová-lo? Alegações à prova de testes não possuem caráter verídico.
Não é bem assim. Claro que quem acusa ou quem descobre que tem o dever de provar sua teoria. Mas em certos casos, é possível haver suspeitas ou dúvidas sem que haja confirmação. Aliás, por definição, quem leanta dúvidas não está querendo indicar uma verdade. Nesse caso, seria uma teoria.
Se a dúvida existe, procura-se uma resposta para a mesma.
Se procuraramos, no âmbito da questão desse tópico por exemplo, uma resposta científica, não a encontraremos. Continuando nesse exemplo, como qualquer possibilidade de comprovação é impossível, nem existem evidências científicas a favor, tal dúvida é suprimida.
Mas você pode procurar uma resposta mística para a dúvida. Pronto, encontrou, fácil e cômodo assim.
Por isso que sou agnóstico. O benefício da dúvida é quase irrefutável.
Para mim o agnosticismo é uma ausência de posicionamento. Eu prefiro me abster de tal dúvida. A dúvida nessa questão não ocupa lugar nas minhas idéias, e eu posso então ignorar as conjecturas e buscas por respostas.
O único benefício que eu vejo no agnosticismo é o fato de você não se comprometer com ninguém. Mas eu vejo como uma espécie de enganação a si mesmo.
Aliás, só aqui uma consideração: o comentário do Ima (com o qual concordo, btw) me faz pensar na confiança que se dá a ciência hoje. Parece que tudo o que havia para descobrir foi descoberto, tudo o que há pra se saber, sabe-se.
Quem pensa dessa forma, evidentemente não é cientista. Um cientista sério tem plena noção de que o cohecimento humano é limitado, e que muitas coisas serão descobertas ainda. Esse pensamento de "tudo o que havia para descobrir foi descoberto" vem da cabeça de pseudocientistas.
No mais, a confiança que se tem na ciência, como já expliquei lá em cima, está nos benefícios práticos que ela trouxe ao homem. Olhe ao seu redor e perceba isso.
Eu não acho que é bem por aí. Ainda teremos muitas surpresas ao longo de nossas vidas e, se pensarmos num espaço de tempo maior, com certeza diversas crenças científicas virão ao chão. O que conhece a ciência também não pode ser considerado verdade absoluta...
E a ciência é a única que admite isso, que permite uma revisão de seus próprios conceitos, que não possui dogmas.
Por isso ela é superior.
Não sabemos. Aliás, existe uma grande chance que já houvesse pessoas que desconfiassem da existência de microorganismos, assim como já existia o conceito teórico de átomo na Grécia Antiga.
Sim, mas no caso estamos falando de um mundo físico. Ou seja: se alguém desconfiava de átomos e microorganismos, não podia prová-lo pela ausência de equipamentos que certamente surgiriam no futuro.
Levando a questão para misticismos estamos fugindo do mundo físico, e assim, da racionalidade.
Quando, no futuro, poderemos investigar aquilo que está além do mundo físico?
Jamais.
..o que é basicamente o que aconteceu com diversos conceitos aceitos como verdade hoje em dia, tipo heliocentrismo, átomo, etc.
Isso não faz muito sentido para mim. Tipo, pense nos extra-terrestres. É completamente impossível provar que eles existam, mas há uma grande chance de que haja realmente vida em outros planetas. Nós não temos como ter certeza que há vida em planetas distantes, mas existem razões para acreditar (gigantesca extensão do universo, etc). O mesmo pode ser aplicado à vida após a morte e questões afins, e os motivos para se ter uma dúvida razoável estão expostos no post do Bag.
Novamente a questão mundo físico x mundo espiritual, etc.
O que postula a favor da existência de vida extraterrestre é: presença de elementos possibilitadores da vida espalhados por todo o universo, a infinitude do mesmo, etc. Ou seja: não podemos comprovar na prática, porém vários fatores nos permitem deduzir essa possibilidade dentro de uma lógica científica.
Agora transfira isso para a vida após morte: quais aos fatores científicos que podem jogar a favor da possibilidade da mesma?
E estamos falando de possibilidades. Daí para se ter certeza, é um loooooongo caminho, muitas vezes não atingido.
Mas, por enquanto, a vida após a morte não possui nem evidências científicas a favor da possibilidade. Nem jamais possuirá.
Como já afirmei: não adianta tentar comprovar isso científicamente.
Até agora eu defendi minha opinião sobre o assunto sob a ótica científica, que acredito ser irrefutável. E claro, isso pode promover ótimos debates, eu adoro debater sobre ciência. Podemos continuar aqui por muito tempo, e, apesar dos inúmeros argumentos a favor da ciência, eu provavelmente não convencerei ninguém sobre minha opinião.
Por isso acho interessante levar a questão porum lado filosófico também. Pode ser um pouco mais produtivo.
Então vou ser breve agora em minha visão filosófica sobre a questão, pois nem deveria estar aqui até agora. =P
Mas posso dizer que me resumo ao pensamento de Nietzsche em muitos aspectos.
A promessa de uma outra vida desvaloriza essa vida que temos aqui. A promessa de um outro mundo, de algo melhor, é a negação da nossa vida aqui, a única que temos como certa.
Portanto, não vivo com a crença de algo além vida. Deixo para fazer aqui e agora o meu melhor, na certeza que essa vida será única. Valorizo a minha vida ao máximo.